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governo federal), enquanto o líder da revolução conservadora se dedica a denunciar o Estado inchado
e a enaltecer o individualismo inflexível.
Desde o início, as pesquisas de opinião deixaram claro que as lendas sobre a esmagadora
vitória conservadora eram inverídicas. Hoje a fraude é silenciosamente admitida. O especialista em
pesquisas dos republicanos de Gingrich explicou que, quando disse que a maioria do povo apoiava o
Contrato com a América, quis dizer que as pessoas gostaram dos slogans usados para embrulhá-lo.
Seus estudos mostraram, por exemplo, que o público se opõe ao desmantelamento do sistema de
saúde e quer preserva(-lo), protege(-lo) e fortalece(-lo) para a geração seguinte . Por isso, o
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desmantelamento é embrulhado como uma solução que preserva e protege o sistema de saúde para
a geração seguinte. O mesmo é verdade em geral.
Tudo isso é natural numa sociedade governada, num grau incomum, pelos negócios, e que
gasta fortunas em marketing: um trilhão de dólares anuais, um sexto do Produto Interno Bruto, em
sua maior parte dedutíveis dos impostos, de modo que as pessoas pagam pelo privilégio de estar
sujeitas à manipulação de suas atitudes e seu comportamento.
Mas não é fácil domar a grande fera. Não poucas vezes se pensou que o problema estava
resolvido, que o fim da história fora alcançado numa espécie de utopia dos senhores. Um momento
clássico foi quando, na origem da doutrina neoliberal, em começos do século 19, David Ricardo,
Thomas Malthus e outras grandes personalidades da economia clássica anunciaram que a nova
ciência havia provado, com a certeza das leis de Newton, que o maior mal que se pode fazer aos
pobres é querer ajudá-los e que o melhor presente que podemos oferecer às massas sofredoras é livrá-
las da ilusão de que têm direito de viver. A nova ciência havia provado que as pessoas não têm outros
direitos além daquilo que podem obter no mercado de trabalho não regulado. Na década de 1830,
parecia que essas doutrinas haviam levado a palma na Inglaterra. Com o triunfo do pensamento de
direita a serviço dos interesses industriais e financeiros britânicos, o povo da Inglaterra foi obrigado
a trilhar um experimento utópico , escreveu Karl Polanyi em sua obra clássica, A Grande
Transformação, há cinqüenta anos. Foi o mais impiedoso ato de reforma social de toda a história
prosseguiu que esmagou milhares e milhares de vidas . Mas surgiu um problema inesperado. As
massas embrutecidas começaram a chegar à conclusão de que se nós não temos direito de viver,
vocês não têm o direito de governar . O exército britânico teve de enfrentar sublevações e desordens, e
logo uma ameaça ainda maior tomou forma, quando os trabalhadores começaram a se organizar,
exigindo leis fabris e legislação social para protegê-los do desumano experimento neoliberal, às vezes
indo muito além. A ciência, que felizmente é flexível, assumia novas formas à medida que mudava a
opinião das elites em resposta a forças populares incontroláveis, acabando por descobrir que o direito
de viver tinha de ser preservado sob um contrato social sofrível.
Mais tarde nesse mesmo século, pareceu a muitos que a ordem havia sido restaurada, apesar
da discordância de uns poucos. O famoso artista William Morris insultou a opinião respeitável
declarando-se socialista numa palestra em Oxford. Ele admitiu ser opinião aceita a de que o sistema
concorrencial, sistema do quem ficar pra trás que se vire , é o último sistema econômico que o
mundo verá; que é a perfeição, e que, portanto com ele atingimos o final . Mas se a história realmente
chegou ao fim prosseguiu a civilização morrerá . E nisso se recusava a acreditar apesar das
confiantes proclamações dos grandes eruditos . Ele tinha razão, como demonstrou a luta popular.
Também nos Estados Unidos, os a1egres anos 1890 , há pouco mais de um século, foram
aclamados como a perfeição e o final . E nos felizes anos 1920 do século seguinte era firme a
crença na idéia de que o trabalho fora esmagado para sempre e a utopia dos senhores alcançada
numa América sumamente antidemocrática, criada por sobre os protestos de seus trabalhadores ,
diz David Montgomery, historiador da Universidade de Yale. Uma vez mais, no entanto, a
comemoração foi prematura. Em poucos anos, a grande fera escapou outra vez de sua jaula, e até os
Estados Unidos, a sociedade empresarial por excelência, foram forçados pela luta popular a conceder
direitos que há muito haviam sido conquistados em sociedades muito mais autocráticas.
Imediatamente após a 11 Grande Guerra, o mundo dos negócios lançou uma imensa campanha
de propaganda para recuperar o que perdera. No fim dos anos 1950, existia uma ampla crença de que
o objetivo fora atingido. Havíamos alcançado o fim das ideologias no mundo industrial, escreveu na
ocasião Daniel Bell, sociólogo de Harvard. Alguns anos antes, na qualidade de editor da importante
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revista de negócios Fortune, ele registrara a assombrosa escala das campanhas de propaganda
empresarial planejadas para superar as atitudes social-democráticas que persistiam nos anos do pós-
guerra.
Mas, uma vez mais, a comemoração foi prematura. Os acontecimentos dos anos 1960
mostraram que a grande fera ainda estava à espreita, despertando outra vez o medo da democracia
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